Treino de Ciclismo - Parte II

Agora vamos começar a falar mais a sério acerca dos treinos. Vão começar a aparecer alguns termos científicos que irei explicar á medida que os for mencionando,mas se alguém tiver mais interesse em aprofundar mais recomendo 3 livros estupendos:
  1. Bompa, Tudor "Physiological Intensity Values Employed To Plan Endurance"
  2. Bompa, Tudor "Theory and Methodology of Training"
  3. Friel, Joe "The Cyclist`s Training Bible.

Os ciclistas novatos em geral acreditam que quanto mais quilómetros andam melhor irão correr, independentemente do que fazem na obtenção desses quilómetros de treino. Até uma determinada altura estão certos mas apartir de determinado momento aumentar os quilómetros de treino é menos benéfico que aumentar a intensidade do treino. O que conta mais não é quantos quilómetros estamos a andar mas sim o que estamos a fazer durante estes

Assim, medir a intensidade do nosso treino é fulcral para a evolução do atleta. um dos sistemas mais antigos (da velha guarda lol) da medição de intensidade é o RPE (Rating of Perceived Exertion) que consite na medição da intensidade (de 6 a 20) baseado nas sensações do atleta.

Antes de falar nos outros sistemas de medição de intensidade do esforço físico, há um termo muito importante para os ciclistas que vai ser diversas vezes mencionado de agora em diante - Lactate Threshold (LTHR). Vulgarmente conhecido por Limiar Aneróbico, corresponde ao nivel de intensidade de exercício a partir do qual a produção de ácido láctico começa rápidamente a acumular-se na corrente sanguínea. Neste ponto o metabolismo muda rápidamente da dependência de gordura corporal e oxigénio para a obtenção de energia para o uso do glicogénio armazenado nos músculos.

Além do RPE, existem mais 3 sistemas (mais científicos) de medição de intensidade de esforço:

  • Sistema Produção de Energia - Este sistema só está ao alcance dos profissionais ou de quem tem muito dinheiro para gastar (lol), visto que é necessário um laboratório para medir a produção de ácido láctico (mmol/l). A partir destas medições, durante o exercício podemos defenir o nosso LTHR, zonas de treino, etc. Não vale a pena falar muito neste sistema pois provavelmente não será usado por um atleta amador.
  • Sistema Muscular - Este sistema mede a intensidade do esforço de acordo com o trabalho produzido durante um determinado tempo (potência). Considerando o trabalho a desmultiplicação usada e o tempo a cadência, de acordo com a física a potência é obtida por P=Trabalho/Tempo. Se a desmultiplicação é a mesma e a cadência aumenta, a potencia tb aumenta da mesma maneira se a desmultiplicação aumenta e a cadência se mantêm. Este sistema (usado á algum tempo nos profissionais) está a começar a ser muito utilizado pelos ciclistas amadores que querem levar mais a sério o seu treino e implica a compra de sensores de força para montar nos pedais.
  • Sistema Cardiovascular - Sistema baseado no ritmo cardíaco para a obtenção dos niveis de esforço durante determinado exercício. É o sistema moderno mais utilizado (quem não tem um monitor cardíaco?) e é o sistema que eu uso até á data. Para utilizar este sistema só é necessário um monitor cardíaco e obter o valor da frequência cardíaca correspondente ao nosso LTHR. Muitos utilizam o valor da frequência cardíaca máxima e definem as suas zonas apartir de uma determinada percentagem mas não é o mais correcto.

Antes de avançar mais temos então de determinar o nosso LTHR. Um teste simples que pode ser feito na estrada é realizar um contra relógio de 30 minutos no nosso melhor ritmo com um monitor cardíaco. A média da frequência cardiaca dos ultimos 20 min do contra relógio irá nos dar um valor bastante razoável para o nosso LTHR. Deve-se realizar este teste 2 vezes por ano (no início da época de treinos e sensivelmente a meio) para obter-mos valores o mais correctos possíveis. Uma vez que estamos na posse do valor do LTHR podemos começar a defenir as nossas zonas de treino. Vou usar o meu exemplo. O minha frequência cardíaca correspondente ao LTHR é de 171 batidas por minuto. Com este valor posso logo defenir uma das zonas mais importante de treino, Zona 5A (Super-Limiar Aneróbico). Assim temos:

  • Zona 1 (Recuperação): 112-139
  • Zona 2 (Aeróbica): 140-152
  • Zona 3 (Tempo): 153-160
  • Zona 4 (Sub-Limiar Aneróbico): 161-170
  • Zona 5A (Super-Limiar Aneróbico): 171-174
  • Zona 5B (Capacidade Aeróbica): 175-180
  • Zona 5C (Capacidade Aneróbica): 181-186

Estes valores foram obtidos segundo uma tabela que pode ser consultada no livro do Joe Friel (The Cyclist`s Training Bible).

No próximo post irei mencionar os aspectos fisicos que podemos treinar, tais como Endurance, Força, Speed Skills, Endurance Muscular, Endurance Aneróbico e Potência, baseados nas zonas de treino já acima defenidas.

7 comentários:

Luis Almeida disse...

Mais um grande artigo do Sérgio,...estás com a pica toda.
Ainda bem que me vou embora...lol, quem cá fica que te aguente para os proximos anos.

Aspecto fundamental deste artigo é mesmo a definição das zonas, mas julgo eu que poderão ser menos mas mais largas (xxx-xxxBMP), no meu caso utilizo no maximo 5 e com base na FCmax.

Abraço,

Luis Almeida

Sérgio disse...

Boas Luís! O método de defenição das zonas de treino que utilizas é um bocado violento para quem se está a iniciar no ciclismo. A obtenção da FCmáx muitas vezes é inatingível para os ciclistas novatos nos seus primeiros anos de treino, pois requer muito treino para atingir essas pulsações. Contudo á fórmulas de estimar este valor, mas a sua fiabilidade é sempre discutivel. Recomendo a Equação de Bouzas (2003)que irá dar uma boa estimativa inicial:

Ciclismo Homens: FCmáx = 169,8+(0,6*idade)
Ciclismo Mulheres: FCmáx = 211,3-(1,06*idade)

Geralmento o nosso LTHR situa-se perto dos 90% do valor da FCmáx.

Sérgio disse...

*há fórmulas...

jormed disse...

Numa fase incial do treino, quando estamos a descobrir tudo, tentamos absorver tudo e mais alguma coisa. Depois com o tempo a tendência é simplificar um pouco mais as coisas. A questão das zonas de treino é uma delas. Inicialmente era mais rigoroso nesse aspecto. Agora sou mais flexível e regulo-me tendo em contas as 5 zonas definidas pela maior parte dos autores (que tenho descritas no meu blog)

De qualquer modo, convém sempre referir tudo como aqui está a ser feito, pois é preferível ter mais informação e simplificar, do que ter pouca e complicar ;)

Mais alguns destes e fica uma pequena obra literária!
Abraço

melo disse...

Sim sr. muita fisiologia...e a técnica? Não se treina?

Sérgio disse...

A técnica vem já a seguir no próximo post :)Na downhill a técnica é muito importante (mais que a condição física), no XC também mas a condição física é mais e na estrada é 90% condição física e 10% de técnica.

Ludovic disse...

Sim Sºs! Bom trabalho.
Axo engraçado, que aqui está muitas das coisas que aprendi a treinar e a conhecer-me a mim próprio (com a prática) e sem q tivesse alguém para me ensinar, ou documentos/livros para ler. Falo dos métodos q explicas de potencia de pedalada em intervais de tempo, etc. A parte das frequências apenas rendi-me este ano, mas ainda utilizo mais para depois ter algo pálpavel do treino em casa(no computador), para me dar vontade de ir para a rua e melhorar o feito no dia anterior. Essencialmente, o relógio (o temporizador) é o meu melhor amigo em cima da bike. Para mim, o q o polar faz q me fascina(além das continhas todas, médias, cadencias, máximas, etc), são as altimetrias dos treinos. Aquilo é mesmo lindo de se ver :P
Abraço!